terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Inexistenciais: de uma charge dx Laerte

Inexistenciais: de uma charge dx Laerte



Como se pode ver na charge acima, mais de dois mil anos depois da teoria dos incorporais, aparece, na era do niilismo, a teoria (e sobretudo a (des)política) dos inexistenciais -- que, diga-se de passagem, compartilha com aquela apenas o "in". Trata-se, no caso dos inexistenciais, de mais uma estratégia para aniquilar xs outrxs, e não só no nível do discurso.

Todavia, a aniquilação em cada caso é diversa.

Bierrenbach nega diretamente a existência dos palestinos enquanto povo -- donde não faria sentido falar em massacre do povo palestino, e o massacre pode seguir sem dó.

Feliciano não declara diretamente a inexistência dxs homossexuais, mas a inexistência do fenômeno que xs elimina enquanto grupo -- e, assim, já que esse fenômeno não existe, xs homossexuais podem parar de tentar se fazer de vítimas e sofrer e morrer caladxs.

Já no caso da Katia Abreu, a operação é um pouco mais complexa, suposto que ela possa ser interpretada nessa mesma linha: se não há latifúndio, não há razão para a reforma agrária (nos moldes como esta sempre foi pensada, ao menos) e não há latifundiário aniquilando índixs, quilombolas, pequenxs produtorxs, sem terra, etc. Donde, essxs também podem parar de se fazer de vítimas e sofrer e morrer caladxs.

Neste último caso, porém, pode-se perceber uma phina ironia. A frase de Katia Abreu não aniquila no discurso um povo (o palestino) que se trabalha para eliminar no real ou nega no discurso uma agressão (homofobia) perpetrada na prática (discursiva, inclusive), mas elimina do discurso uma realidade existente E defendida na prática (o latifúndio) com a finalidade de eliminar na realidade prática e no discurso os que são contra ela. Ora, a ironia está em que a eliminação prática, real do latifúndio pela revolução é justamente uma das pautas históricas da esquerda... e Katia teria sido escolhida Ministra da Agricultura para, segundo ela mesma, "revolucionar" a pasta. E já começou bem: eliminou o latifúndio... do discurso -- e, assim, deu (ao menos) o ponta pé inicial para eliminar os problemas dele decorrentes... da realidade. Qualquer semelhança desse lance com o "olha pra esquerda e toca pra direita"(1), comum numa eleição perto de vc, não parece ser mera coincidência.

Nota:
(1) Crédito do "olha pra esquerda e toca pra direita" para uma postagem no facebook do camarada Silvio Pedrosa.

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